Ambipar produz álcool a partir de resíduos

Maior complexo portuário do Brasil e segundo da América Latina, o Porto de Santos possui uma infraestrutura exclusiva para armazenagem e movimentação de grãos e itens a granel, composta de 33 armazéns e 118 silos, com capacidade de abrigar 2,5 milhões de toneladas de produtos ao mesmo tempo. Com tamanho volume, são descartadas quantidades consideráveis de resíduos que, por sua vez, oferecem risco de contaminação na área, já que atraem vetores e podem poluir as águas do entorno.

Uma das companhias que atuam no Porto de Santos, porém, propôs à Ambipar, empresa líder em gestão ambiental, e que faz a limpeza e a manutenção de armazéns no local, um desafio em meados de 2020: encontrar um caminho diferente para os restos de açúcar, soja e outros grãos, efluente proveniente da água de lavagem dos armazéns, cujo destino final, invariavelmente, é o aterro sanitário e estações de tratamento de efluentes.

A resposta surgiu no início de 2021, a 207 quilômetros dali, na cidade de Nova Odessa (SP), onde cientistas e técnicos do departamento de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (PD&I) da Ambipar desenvolveram o ecoálcool. O primeiro lote, elaborado de 60 metros cúbicos de rejeitos de açúcar, soja, milho, trigo e arroz, deu origem a 15.000 litros do produto.

“Ao usarmos essas novas fontes de produção, atendemos aos parâmetros da política nacional de resíduos e colocamos no mercado um produto que está em alta, sobretudo por causa da pandemia. Além disso, promove a transição da economia linear para a circular”, diz Gabriel Estevam Domingos, diretor de PD&I da Ambipar.

Uso na indústria
Com a experiência no Porto de Santos, a Ambipar expandiu a produção do ecoálcool para outros setores, como a indústria de alimentos e bebidas. Uma fabricante de sucos, por exemplo, está usando como matéria-prima desse etanol o açúcar das frutas que seriam rejeitadas, enquanto outra companhia, que antes incinerava enormes quantidades de refugo de balas, está transformando os resíduos em um melaço a ser inserido no processo de fermentação e destilação do ecoálcool.

“Temos ainda capacidade instalada para quintuplicar a produção em nossa usina no interior de São Paulo, sem contar as outras unidades”, diz Gabriel Domingos, da Ambipar. O processo de produção, segundo o executivo, assemelha-se ao da fabricação de aguardente, por exemplo: têm-se resíduos ricos em sacarose (açúcar) que, junto com outros grãos e insumos, são fermentados, destilados e geram um álcool com vários tipos de classificação, seja de 46 ou 70 graus, um produto com alta demanda nestes tempos de pandemia.

A pandemia, aliás, foi um indutor na criação do ecoálcool, já que, além do aumento da demanda por álcool 70 – utilizado na prevenção da covid-19 –, a retração econômica motivou as empresas a reavaliar seus processos, diminuir custos e responder às cobranças corporativas.

Por dentro do ESG
“O ecoálcool é um exemplo da unificação dos aspectos ambiental e econômico, pois faz com que o resíduo retorne à cadeia produtiva e gere valor”, explica o diretor de PD&I da Ambipar. Não é à toa, portanto, que o ecoálcool seja capaz de ajudar as empresas produtoras a atender aos critérios ESG – uma nova classificação de governança ambiental e social, que desperta cada vez mais interesse dos investidores – e a obter resultados práticos de economia circular.

“Ao fabricar o ecoálcool, a empresa deixa de pagar pela destinação dos resíduos para os aterros – o que era um custo – e cria a oportunidade de economizar e até gerar receita com esse novo produto”, explica Gabriel Domingos. Sem contar que a produção do ecoálcool é uma forma de inovar e diversificar as fontes de matéria-prima. Que o diga o setor de produção de celulose: “Pretendemos mais adiante obter etanol da casca do eucalipto”, adianta o head do departamento de PD&I da Ambipar.

Fonte: G1

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